sexta-feira, janeiro 21, 2005

Primeiro de muitos...

Hoje meu marido assina os papéis, para começar o processo que estamos movendo contra o estado e a polícia japonesa.
Já faz 4 anos, mas parece que foi ontem.
Tanta injustiça, medo, sofrimento e preconceito que passamos.
Não sei se dinheiro paga os 6 meses que perdemos de vida. A gravidez da Mayumi que passei sózinha. E os traumas que carrego no coração.
Sempre que Natal e Ano Novo se aproximam, meu coração bate apertado.
Todo aniversário da minha sobrinha, me dá vontade de chorar.
Por que eu não estive presente no primeiro aninho dela? Por que não comemorei aquele natal de 2000?
Por que? Por que no dia 9 de dezembro de 2000, eu estava grávida de 2 meses da minha filha.
Meu marido foi preso, acusado de tentativa de homicídio contra um japones.
Watanabe Massanori, 22 anos na época. Prestou queixa contra meu marido, depois de uma briga, e alegou que fora esfaqueado no peito, na mão e na bunda. E o portador da faca... meu marido.
No mesmo dia, na delegacia, meu marido também foi esfaqueado por uma amigo do que se dizia vítima.
Foram 6 meses de prisão.
Várias sessões de julgamento, que apenas serviram para provar quem estava mentindo na estória.
A "vítima", no dia do ocorrido, foi socorrido por 2 hospitais diferentes. Ambos com nome falso, e em horários diferentes.
Primeiro, a meia-noite, ele deu entrada no hospital de Bisai para dar pontos na bunda.
A briga entre eles ocorreu ás 24:40.
Pensei que essa série de fatos mal contados, fosse o suficiente para abrir os pequenos olhos daqueles 3 juizes.
Durou muito mais... meses que via minha barriga crescendo, o bebê se mexendo... e sózinha.
O promotor... esse era um caso a parte. Arrogante, prepotente. Demontrou estar participando de um game, um jogo, como ele mesmo disse.
Fomos manchete de jornal, notícia de tv. Alardes e mais alardes contra o estrangeiro que tentou contra a vida de um japones.
Finalmente em Outubro, meu marido já em liberdade, foi absolvido por unanimidade. Provas? Essas nunca existiram.
Evidência, tão pouco.
Existia, sim, um clima de conspiração no ar. PRECONCEITO!
Brasileiros, nós não passamos de mão de obra nesse paíz! Direito nenhum, mas obrigações muitas.
Pagamos nossos impostos, mas não somos protegidos pela lei.
Somos culpados, até que provem o contrario!
A primeira vista, somos ladrõs, bandidos, favelados.
A segunda... até que são gente fina.
Não sei se isso um dia muda, mas apesar da primeira indeninazação que recebemos, uma quantia de quase 2 milhões de yens, vamos correr atrás da roupa suja sim!
Processando esse estado hipócrita, e essa polícia deplorável, que só funciona para os seus.
Japão, que boas lembranças levarei de você o dia que te deixar?
Se não boas lembranças, levarei o nome do meu amado marido, como o primeiro brasileiro a ser inocentado e indenizado, nesse paíz medíocre.
Hoje é o primeiro passo de muitos!